No ano passado, Ronaldo “Fênomeno” adquiriu parte do clube de e-sports CNB, uma das mais representativas organizações de esportes eletrônicos no país.
O objetivo desse post é entender o que a junção Ronaldo e e-sport CNB significa dentro de um contexto nacional e internacional, e os desdobramentos jurídicos na evolução desse setor, pois, com essa aquisição, o Brasil passa a fazer parte de uma atividade que é tendência mundial.
É possível que parte do público desconheça o universo dos e-sports (jogos eletrônicos jogados em alto nível competitivo), mas nos últimos dez anos esse setor foi se consolidando mundialmente, com diversos jogos famosos, como Starcraft 2, Counter-Strike, DOTA 2 e League of Legends.
Inicialmente era uma atividade tipicamente oriental, sendo a Coréia do Sul um país de destaque e um dos primeiros a se identificar com o mercado de e-sports.
No entanto, o crescimento do e-sport o levou para outros mercados, como dos EUA, Europa e, mais recentemente, Brasil.
É importante destacar que Ronaldo não é o primeiro atleta de uma modalidade “tradicional” a investir em e-sports. Os americanos Rick Fox e Shaquille O’neal, ídolos do basquete, possuem times de e-sports, o Echo Fox e o NRG.
Além dos atletas individualmente, clubes de esportes tradicionais têm entrado no setor – recentemente o clube dinamarquês FC Copenhagen comprou o time “Dignitas” sob a nova marca “North”.
A organização e desenvolvimento do cenário brasileiro para esse segmento ainda é bastante incipiente, principalmente quando comparado aos cenários asiáticos (especialmente China e Coréia do Sul), norte-americano e europeu.
Isso pode mudar com o ingresso Ronaldo, pois estamos diante do primeiro grande investimento desse tipo no Brasil. E isso mostra que o Brasil é um mercado com muito potencial de crescimento e precisa se organizar juridicamente para continuar a crescer.
Já existe um primeiro passo nesse sentido, que é a criação da Associação Brasileira de Clubes de e-Sports (ABCDE). Entretanto, apesar de apontar para a profissionalização do setor, ainda é pouco para a plena organização.
Mesmo assim, o potencial do mercado brasileiro não passa despercebido e investidores de diversos outros ramos e segmentos, como o próprio Ronaldo, identificam essa oportunidade.
Vários desafios se apresentam para o mercado de e-sports no Brasil para o futuro. Embora ligas de jogos como League of Legends estejam mais consolidadas, outros jogos como Counter-Strike ainda não tem um cronograma de torneios e competições tão bem definido, o que gera insegurança para jogadores, organizações e investidores.
Outra dificuldade é a forte concorrência dos torneios estrangeiros. Devido à facilidade de acesso, boa parte do público não acompanha o cenário nacional e dá preferência ao internacional.
Outro grande desafio normalmente ignorado é referente à situação jurídica desse mercado.
O primeiro grande gargalo é a legislação que é aplicável aos atletas “tradicionais” e ainda não foi adequada ao modelo do e-sports – modelo de remuneração (e de trabalho) dos jogadores envolvem atividades não previstas, como horas de transmissão por plataformas online (como a Twitch).
Outro ponto conflitante é a comunicação desses jogadores com o público e o uso de sua imagem pessoal fazerem parte do trabalho, fugindo ao modelo tradicional da remuneração pelos Direitos de Arena. Isso também precisa ser ajustado à nova realidade.
Além desses, existem outras questões jurídicas precisam ser resolvidas:
Para regular certos aspectos desse mercado, novas leis deverão ser criadas, como por exemplo: a quem pertencem as vagas em ligas, se aos jogadores ou à associação? Este questionamento é mais recorrente do que se imagina.
A entrada de uma personalidade como Ronaldo no cenário do e-sports não é uma ação isolada, mas sim um sinal da evolução e do potencial de mercado brasileiro do setor.
A questão agora é como organizar o setor, especialmente no tocante aos aspectos jurídicos, para permitir seu crescimento adequado e comprovar que não se trata de mera “bolha” especulativa, mas de um novo cenário esportivo, que começa a se consolidar no Brasil e é bastante promissor.