Patentes valem dinheiro – Como a Amazon ganhou o mundo em 1 clique
Patentes valem dinheiro e exemplo disso é a Amazon, cujo site teve por 20 anos uma tecnologia exclusiva que não pôde ser copiada por ninguém nos Estados Unidos. Trata-se do “1-Click” (permitia ao consumidor comprar com um único clique), que não existia em outras lojas virtuais de e-commerce (com exceção da Apple) porque a Amazon detinha a patente dessa função.
O objetivo deste post é falar um pouco sobre como essa patente (que expirou em 2017), ajudou a Amazon a se consolidar como e-commerce e se solidificar como uma das empresas mais valiosas do mundo.
Patentes valem dinheiro?
É bastante comum avaliações (erradas) de que patentes são “inúteis” ou “desnecessárias”, principalmente no Brasil, onde há uma grande demora para efetiva concessão. Esse é um erro crasso, uma terrível falha de estratégia de negócios e mercado, considerando que patentes valem dinheiro.
É também comum que em um mundo de grande inovação e competitividade, os custos necessários para proteger uma invenção pareçam maiores do que os lucros e que em tempos de “economia colaborativa” iniciativas de proteção não sejam preocupação ou prioridade.
No entanto, é justamente nesse cenário de dificuldade que as patentes podem ser solução, pois podem ser extremamente lucrativas, valendo dinheiro e sendo um ativo da empresa.
O exemplo da Amazon e da tecnologia patenteada “comprar em um clique” desmonta a visão equivocada de que patentear é desnecessário.
A história da patente
A Amazon pediu a patente em 1997 e a conseguiu em 1999, por meio do Escritório Americano de Marcas e Patentes (USPTO). A patente expirou em 2017, pois possui duração de 20 anos, a contar da data do pedido.
Durante esse prazo, a Amazon pôde explorar de forma exclusiva essa patente – pôde vendê-la, licenciá-la. E a tecnologia era de interesse de empresas de grande potencial econômico do mesmo ramo.
Porque a tecnologia da Amazon é tão importante?
A importância está em aumentar a taxa de conversão dos clientes para a realização de compras, pois diminui o número de etapas necessárias, possibilitando as compras por impulso e outras formas de consumismo.
Em síntese, essa funcionalidade aumenta o número de vendas da empresa.
Porém, seria plausível avaliar que conceder essa patente para a Amazon seria dar à empresa uma vantagem competitiva muito grande e, de certo modo, promover um desserviço ao consumidor e a outras empresas (que, por força da lei de patentes, foram impedidas de utilizar a tecnologia).
Até certo ponto essa avaliação é verdadeira, mas sob a ótica corporativa e comercial, é importante ponderar que Amazon investiu significativo tempo e recursos financeiros e humanos para realizar e viabilizar a inovação. Por esse prisma, se pode concluir que a empresa tem o direito colher os resultados de seu investimento. Não fosse assim, não existiria qualquer estímulo à inovação, posto que a alma da inovação é sair na frente e obter vantagem com isso.
Hoje em dia já é possível ver essa funcionalidade em outros e-commerce. Entretanto, isso não foi o que aconteceu desde a concessão da patente. Na Austrália e na Europa, a concessão da patente foi negada, sob o argumento de que tratava-se de uma tecnologia “óbvia” e uma utilização dos conhecimentos já existentes à época, não sendo uma inovação propriamente dita.
Partindo desse princípio, seria muito simples copiar essa funcionalidade, mas não foi o que aconteceu, os demais e-commerce começaram a utilizá-la muito depois.
E a explicação é simples, embora a funcionalidade seja técnica, a Amazon tomou o cuidado de requerer a patente de um “método de negócio” e não de uma tecnologia específica.
Isso mostra que a empresa foi muito bem assessorada do ponto de vista jurídico. Se a Amazon tivesse solicitado a proteção apenas da funcionalidade seria possível outras empresas se “inspirarem” no método e criarem versões similares, desde que não utilizassem o mesmo código-fonte.
Entretanto, ao proteger o método de negócio, a Amazon impediu o surgimento e uso de versões similares.
A estratégia foi adequada, porque impediu a entrada de outros concorrentes no mercado e permitiu criar para o cliente da Amazon uma experiência de usuário única.
O resultado final da obtenção dessa patente foi o aumento do número de vendas e a consolidação da marca Amazon como uma referência no setor de e-commerce.
Conclusão
Além de permitir a consolidação da Amazon como e-commerce, a patente do “1-Click” possibilitou ganho financeiro. Em 2000, a empresa licenciou a patente para a Apple por uma quantia em dinheiro que nunca foi relevada, para utilização em suas lojas e aplicativos (como a iTunes). Os royalties foram pagos durante 17 anos.
Com o fim da patente, outras empresas (inclusive a própria Apple) podem usar essa função. Entretanto, o momento econômico e tecnológico é outro e a Amazon, já consolidada e bem posicionada, prepara outras inovações.
Dessa forma, quem entrou no mercado e adotou a tecnologia logo que venceu patente da Amazon, já estava ultrapassado em 17 anos.
A relevância da patente se explica, então, pelos lucros obtidos com ela e pela consolidação da Amazon no mercado, dando à empresa condições de continuar inovando e de manter e/ou aumentar a sua liderança frente aos seus concorrentes.
Dessa forma, perdê-la em 2017 não foi algo impactante. A experiência comprova o pioneirismo da Amazon e que o uso correto da ferramenta jurídica pode ser a diferença entre a empresa que se torna referência em seu segmento e a que desaparece na obscuridade.
Leia também em nosso blog 20 patentes = 150 milhões de pôneis mágicos e INPI torna permanente o serviço de “Patentes Verdes”
