* por Solange Mendes Aburaya (técnica em patentes)
Anticorpos monoclonais – ou mAbs – recebem esse nome por serem produzidos por um único clone de um único linfócito B, e produzem o mesmo anticorpo contra um agente patogênico. Os mAbs começaram a ser utilizados terapeuticamente no início da década de 80 e têm sido utilizados no tratamento de grande variedade de doenças, tais como asma, esclerose múltipla, artrite reumatoide, retinopatia, infecções bacterianas e câncer.
O ponto chave de um anticorpo monoclonal é sua especificidade. Um exemplo é o tratamento de um carcinoma específico com mAbs em substituição à quimioterapia convencional: um anticorpo monoclonal pode “mirar” seletivamente o câncer através do reconhecimento da superfície exposta do antígeno, que está mais presente predominantemente nas células cancerígenas; e em menor parte, em células saudáveis. A quimioterapia, por sua vez, apresenta toxicidade não apenas para células tumorais, como também para as células saudáveis.
Adalimumab foi o primeiro anticorpo monoclonal totalmente humano aprovado pelo FDA e, em 2002, tornou-se o medicamento mais comercializado no mundo. O grande sucesso de adalimumab (HUMIRA® – Abbott) deu-se pela vasta efetividade do medicamento, que é indicado para doença de Crohn, artrite reumatoide, colite ulcerativa, hidradenite supurativa, psoríase, artrite psoriática, artrite juvenil idiopática, espondilite anquilosante e uveíte. Adalimumab foi produzido a partir de uma tecnologia denominada phage display, desenvolvida por Greg Winter, que posteriormente recebeu o Nobel de Química em 2018.
Para o desenvolvimento do medicamento, foi escolhido como primeiro alvo a artrite reumatoide. Era sabido que as proteínas Fatores de Necrose Tumoral Alfa (sigla em inglês: TNF-α, proteína que também está ligada a diversas outras doenças autoimunes) causam inflamação excessiva no sistema imune humano quando associada com doenças autoimunes como a artrite reumatoide, causando dor e danos nos ossos e articulações. Adalimumab foi isolado e, quando testado, o anticorpo se ligava muito bem com o TNF-α, bloqueando inflamação em humanos. Em 2003, após estudos de Fase III concluídos com sucesso, Humira® (Human Monoclonal Antibody In Rheumatoid Arthritis) foi lançado. Nos anos seguintes, estudos clínicos adicionais foram conduzidos para diversas outras doenças autoimunes.
As patentes de HUMIRA® expiraram nos Estados Unidos em 2016 e em 2018 no território europeu e empresas como Amgen, Samsung Bioepsis tiveram seus biossimilares de adalimumab aprovados pelo FDA. No Brasil, o primeiro biossimilar de adalimumab foi aprovado pela Anvisa em 2019 e, desde dezembro de 2022, o biossimilar de adalimumab está sendo distribuído pelo SUS a partir de uma parceria entre Sandoz e o Instituto Butantan.