No dia 7 de janeiro de 1941, o farmacêutico Oto Serpa Grandado colocou na pauta da reunião da Associação Brasileira de Farmacêuticos (ABF) a criação de um dia para comemorar a profissão adotada por aqueles que, segundo Carlos Drummond de Andrade, poeta farmacêutico, exercem “a ação de servir a qualquer hora de qualquer dia e em qualquer lugar”, que faz “purgas, cápsulas, xaropes, linimentos e pomadas”. A data escolhida, dia 20 de janeiro, é a mesma da fundação da ABF, ocorrida em 1916.
Apesar da data ter sido sugerida só em 1941, a atividade farmacêutica no Brasil data do período colonial, na figura do Boticário, o responsável por promover o acesso aos medicamentos durante as expedições europeias em terras brasileiras, por manipular as formulações, muitas vezes na frente dos pacientes, e por vendê-las em suas boticas. Não era raro que a saúde das famílias fosse acompanhada pelo farmacêutico, o profissional a quem todos recorriam em épocas de enfermidades, seja para diagnóstico, cura, cuidados ou conforto. Daí vem mais uma definição feita por Drummond, de que o farmacêutico é aquele que “aplica trezentas mil injeções, atende, ajuda, consola, é enfermeiro, é médico e é padre*”.
Com o tempo, e com a separação entre as profissões de medicina e farmácia, os Boticários foram substituídos pelos farmacêuticos, que se tornaram os profissionais da saúde responsáveis por todo o processo produtivo relacionado ao medicamento, desde seu planejamento, produção, análise, manipulação, dispensação e orientação quanto ao uso racional.
Dentre as mais de 130 possíveis áreas de atuação do farmacêutico está aquela que é uma das responsáveis por fazer com que os métodos de cura e prevenção cheguem aos pacientes: a de técnico em propriedade industrial. Somos os responsáveis por assessorar os inventores, muitas vezes outros farmacêuticos, seja na indústria ou na pesquisa científica, a proteger a atividade criativa e desenvolver novas tecnologias, seja pelo aprimoramento do que já existe, ou por um desenvolvimento completamente inédito, sempre com foco no paciente. Diferente do que se especula, a propriedade industrial é a responsável por permitir o acesso aos medicamentos mais inovadores. Isso se deve ao fato de que as redes de colaboração público-privada se dão pelo licenciamento de tecnologias desenvolvidas pelas universidades e centros de pesquisas por grandes indústrias farmacêuticas, aquelas chamadas de Big Pharma, responsáveis por colocar as tecnologias mais recentes no mercado.
Por meio desta, e de outras atividades executadas pelo farmacêutico, conseguimos colocar em prática aquilo que, novamente, Drummond definiu como o cerne da profissão. Ser farmacêutico é, acima de tudo, “cuidar, promover a saúde e salvar vidas”.
*adaptado do original “sê enfermeiro, sê médico e sê padre”.